Nova Orleans, a cidade mais mal-assombrada do mundo
Nova Orleans possui muitos atrativos que a tornam um destino incrível, no entanto, muitas pessoas a procuram motivadas por uma característica pouco convencional: a cidade é considerada a mais mal-assombrada do mundo!
Fundada em 1718 por colonizadores franceses, a cidade também passou pelas mãos dos espanhóis antes de finalmente se tornar parte do território norte-americano em 1803. Por lá não são visíveis apenas as influências deixadas por seus colonizadores europeus, mas também por africanos e caribenhos, povos que também fazem parte da história da cidade.
A megera da Royal Street
A ficção sempre tentou traduzir o clima de misticismo existente na cidade. Em uma de suas tentativas mais recentes, a famosa série de televisão, American Horror History, mostrou em sua terceira temporada um roteiro bastante envolvente com lugares clássicos de Nola misturados a fatos e pessoas reais.
A mais curiosa delas foi a personagem vivida pela atriz Kathy Bates, que de tão cruel parece ter sido criada especialmente para o programa, mas foi inspirada em uma moradora. Delphine LaLaurie foi uma rica dama da sociedade que nasceu em 1775 e levava uma vida luxuosa promovendo festas em sua mansão para as quais convidava as pessoas mais influentes de Nova Orleans.
Madame LaLaurie casou-se três vezes ao longo de sua vida e, apesar da posição proeminente nos círculos sociais, ela era alvo de muita desconfiança, pois as pessoas sempre consideraram estranho o fato de muitos de seus escravos desaparecem constantemente. Quando a questionavam ela simplesmente dizia que haviam fugido, o que resultava em diversos tipos de boatos. No entanto, em 10 de abril de 1834, um incêndio fez com que todos soubessem a macabra verdade a respeito do que acontecia no último andar da casa localizada na Royal Street 1140, no coração do principal bairro da cidade, o French Quarter.
Quando os bombeiros entraram no local se depararam com um cenário terrível. Ali se encontravam dezenas de escravos mutilados que faziam parte de experiências macabras realizadas pela aparentemente inofensiva senhora. Vários corpos sem vida também estavam empilhados no cômodo. Relatos da época dizem que muitos escravos foram encontrados com braços no lugar das pernas, bocas costuradas, órgãos expostos, olhos furados e vítimas de muitos outros tipos de barbáries. Segundo indícios, mais de 100 escravos foram mortos por ela.
Informações oficiais garantem que Madame LaLaurie e sua família nunca foram julgados por seus crimes, pois fugiram da cidade sem deixar rastros. Mas muitos acreditam em uma história bem diferente: a de que ela tenha sido enterrada viva no quintal de sua mansão e, assim como suas vítimas ainda vague pelo local durante as noites. Muitas pessoas que vivem próximos da casa, atualmente habitada por uma família, garantem que naquele endereço acontecem coisas muito estranhas, inexplicáveis e sobrenaturais.
A rainha do vodu
Formada por pessoas de diferentes lugares do mundo, não é de se estranhar que a cidade possua um patrimônio cultural riquíssimo capaz de seduzir qualquer um que decida explorá-la. E o misticismo é parte importante da cidade de Nova Orleans, principalmente por conta da religião vodu que foi introduzida na cidade pelos imigrantes e escravos que vieram de lugares como o Haiti.
Popularmente, o nome “vodu” costuma remeter a um ritual no qual um feiticeiro crava agulhas em um boneco que simboliza uma pessoa fazendo com que ela sinta dores terríveis. No entanto, o vodu haitiano é uma crença que combina elementos do catolicismo e de religiões tribais da África com raiz semelhante ao candomblé praticado no Brasil. Na religião se venera um deus principal (o Bon Dieux, “Bom Deus”) que é representado por espíritos que o voduísta invoca para ajudá-lo, assim como os antepassados. O voduísta, portanto, adora Deus e serve aos espíritos, que são tratados com honra e respeito como se fossem membros mais velhos de uma casa.
Em Nova Orleans, nenhum nome associado ao vodu é mais importante do que o de Marie Laveau, outra pessoa real que foi transformada em personagem em American Horror History (vivida pela atriz Angela Basset).
Supõe-se que ela tenha nascido no Bairro Francês de Nova Orleans em 1794. Filha de um agricultor branco e uma mulher negra, Marie casou-se com Jacques Paris, um negro livre, em 1819. Após a morte de seu marido em 1820, ela se tornou cabeleireira e passou a trabalhar para famílias brancas e ricas da cidade.
Católica e voduísta, Marie ganhou fama de paranormal e a ela passaram a ser atribuídos uma série de poderes, como o dom de predizer o futuro e de sempre descobrir os mais ocultos segredos dos residentes de Nova Orleans através de magia. No entanto, muitos acreditam que seus “poderes mágicos” seriam na verdade resultado da boa e velha fofoca. Como dona de um salão de cabeleireiros, Marie acabava sabendo de tudo o que acontecia com as pessoas influentes da cidade e usava estas informações a seu favor.
Mas enquanto alguns desmerecem os poderes da chamada “rainha do vodu”, milhares de outras a veneram até hoje. Falecida em 16 de junho de 1881, ela está enterrada no famoso cemitério Saint Louis Número 1 e seu túmulo é o segundo mais visitado dos Estados Unidos (só perde para o de Elvis Presley que está enterrado na cidade de Memphis). Neste cemitério, além do túmulo oficial, as pessoas acreditam que ela possa estar enterrada em outros dois túmulos que não possuem identificação. Nestes túmulos as pessoas costumavam rabiscar três vezes a letras “x” enquanto faziam pedidos que desejavam realizar com ajuda de Marie Laveau. Atualmente esta prática é proibida.
Reza a lenda que até os dias de hoje Marie Laveau é vista vagando pelas ruas de Nova Orleans. Relatos de moradores garantem que após o Katrina – que vitimou muitas pessoas na cidade – ela foi vista diversas vezes em meio aos escombros onde foram resgatados sobreviventes.
Fantasmas, fantasmas por todos os cantos
Pode parecer estranho, mas a fama de cidade mal-assombrada é parte do encantamento que Nova Orleans desperta em seus visitantes. A cada canto que se ande em Nola, há um lugar repleto de histórias com acontecimentos bizarros.
Uma das mais famosas é a de um restaurante localizado na Jackson Square, o Muriel’s. A enorme propriedade foi comprada por um homem chamado Pierre Lepardi Jourdan, um bon-vivant que adorava festas, bebidas e jogatina. Em 1814, Pierre perdeu a mansão em um jogo de pôquer. Desesperado, acabou cometendo suicídio.
Ao longo dos anos, a casa foi vendida inúmeras vezes e foram várias as tentativas de transformá-las em um estabelecimento comercial, no entanto, nada dava certo pois fenômenos inexplicáveis aconteciam no local diariamente. Um dia, um paranormal foi contratado pelo atual proprietário e passou uma solução bastante simples para solucionar a questão. Desde então, todos os dias os funcionários do restaurante preparam uma mesa com vinho, pães e velas especialmente para o fantasma.
Segundo informações, pequenos incidentes ainda acontecem, como coisas que mudam de lugar da noite para o dia, mas no geral o restaurante funciona normalmente. Pessoas mais ousadas inclusive podem reservar a mesa especial de Pierre e comer na companhia do fantasma. A mesa fica em um espaço separado no restaurante e é possível observá-la da rua através de uma porta de vidro.
Várias outras casas localizadas no Quarteirão Francês guardam histórias fantasmagóricas. Sendo o bairro mais antigo da cidade e onde costumavam residir as pessoas mais abastadas, muitas das propriedades ali existentes foram cenário de sofrimento. Nos Estados Unidos a escravidão durou entre o século XVII e o ano de 1863. Na Luisiana, assim como em outros estados do sul do país, os escravos não trabalhavam apenas nas plantações, mas também nas residências das famílias ricas.
Sem nenhum tipo de direito e sem contar tampouco com a humanidade de seus donos, muitos escravos foram torturados ao longo de suas vidas e negligenciados chegando a morrer em vários incêndios, pois como estavam acorrentados não podiam se proteger do fogo. Segundo relatos, não é raro ouvir murmúrios e correntes sendo arrastadas tarde da noite pelas ruas do bairro.
Vampiros? Sim, vampiros!
Lendas sobre vampiros também são ouvidas por todos os cantos de Nola. Uma das mais famosas é em torno de um grande convento que ainda hoje existe na cidade, o Old Ursuline. A partir de 1720, o local passou a abrigar não apenas freiras, mas também mulheres que eram enviadas da França e ali moravam até que se casassem. Essas jovens eram chamadas pelos locais de “Casket’s Girls” (algo como “garotas do caixão”) por conta de um enorme baú que cada uma trazia com seus pertences.
Além disso, quando chegavam à Nova Orleans, elas estavam magérrimas e pálidas por conta da longa viagem nos porões dos Navios. Somando a aparência considerada assustadora, aos “caixões” e ainda ao fato de que nunca eram vistas à luz do dia, foi fácil ganharem a alcunha de vampiras.
Outra responsável pela reputação “vampiresca” de Nova Orleans é Anne Rice, escritora que nasceu e ainda vive na cidade. Sua principal obra, “Entrevista com o Vampiro”, se passa em Nova Orleans e foi baseada em uma tragédia pessoal. Em 1972, quando tinha 30 anos, Anne perdeu sua filha Michele, de apenas cinco anos, vítima de leucemia. No livro, ela retrata a menina através da personagem Claudia, que, após se tornar vampira, é forçada a viver eternamente como criança. Segundo a escritora, a imortalidade é o grande motivo de seu fascínio por vampiros, personagens principais de muitos de seus livros.
O cinema e a televisão também são uma grande influência sobre a percepção das pessoas em relação aos vampiros e Nova Orleans. A obra prima de Anne Rice, “Entrevista com o Vampiro”, adaptado para o cinema e um dos filmes de maior sucesso dos anos 90, ajudou muito a disseminar histórias do gênero.
Ghost tour
Várias agências de turismo oferecem tours guiados que contam histórias de fantasmas e vampiros mostrando os principais lugares da cidade. Os valores podem chegar a 35 dólares por pessoa dependendo da empresa escolhida. Normalmente os próprios hotéis já possuem convênio com agências e você pode contratar o passeio já na recepção de onde estiver hospedado.
Como chegar à cidade
Uma das maneiras mais fáceis e econômicas de viajar para Nova Orleans é através da Copa Airlines. A companhia aérea possui quatro voos semanais que partem de São Paulo para a “Big Easy” aos domingos, segundas-feiras, quartas-feiras e sextas-feiras.
Com escala no Panamá, cidade sede da Copa onde os passageiros trocam de avião, não é preciso se preocupar com a bagagem que segue direto ao destino final.
O valor oferecido pela companhia também é um dos melhores do mercado. Procurando passagens para fevereiro deste ano, encontramos opções de ida e volta a partir de R$ 1300.
Mais informações: www.copaair.com